sábado, 19 de julho de 2014

Sobre Rubem e o Lixo lógico

Que data chata. Dia 20 de Julho. To escrevendo aqui nesse blog já tem um bom tempo. E realmente tempo é uma pertubação do equilíbrio do nosso ser-estar (nem sei de onde tirei isso). Pois bem. Rubem partiu. Estava doente e sabemos o quão é doloroso a partida de que realmente veio pra mudar. Pra ele, a morte era algo trivial, assim como o talento. Acabei de ler um texto seu sobre saúde mental e tinha certeza que havia escrito algo parecido (mas nem de perto talentoso) com aquele texto. Pensar realmente é difícil...e perigoso. E depois também lembrei do texto que falei sobre a morte e sua libertação. Acho que tudo se encaixa no fim. E as perguntas são realmente inúteis, quem as responderá? Se tudo tem fim, prefiro acreditar no aqui. Meio revoltadinho, não iria fazer o papel de "Geração Coca-cola" numa póstuma homenagem a quem os ipês serão eternamente gratos.
Alves. De um dos filhos de Abraão, das doze tribos. Rubem. Falência múltipla dos órgãos mas resistência moto contínua da alma. Da poesia. Dos ipês. As cinzas serão lançadas e ficaram encrustadas na nossa mente.
Enganchando esse texto, assisti um documentário sobre o tropicalismo. Como diria o Tom Zé, um lixo lógico demais. Mas quando vi que o Gil conseguiu misturar Sgt. Peppers com Banda de pífano de Recife achei que valeria dar uma olhada. E quando ouvi as primeiras canções acho que realmente me culpei por não ter tido a mínima curiosidade de ouvir essa lindeza. E de como as canções eram fortemente "maquiadas" para não serem barradas na peneira dos milicos. A real beleza mora aí: esconder aquilo que se quer dizer para não dizer realmente o que é. Confuso? Sim, a beleza também reside num pouco de confusão filosófica das coisas. E no córtex cerebral ou célebre. Dos desencaixes de palavras gêmeas (virei Millôr).
Então retomo o ponto de partida com Rubem e as loucuras da saúde mental. Ler jornal nunca foi meu esporte, prefiro algo mais sarcástico como livros de teoria dos conjuntos, do Halmos mais especificamente. Ou uma revistinha do Superman. Enfim, algo que alimente e realmente me sirva. Nada de especular autores renomados, a graça da coisa é ser a coisa.

E um lixo lógico amontoado no pairar do pensar, trouxa!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

BEM...material

O texto de hoje vai parecer desconexo, De propósito. Acho que não ando falando realmente o que devia. Mas bem (veja o texto já ficou desconexo) o motivo de estar aqui escrevendo é sobre um episódio interessante que aconteceu comigo nesta corrente data. Cheguei em casa sem ter o que fazer, fiquei a espreita do inesperado. Eis que meu pai chega, nada demais, ele sempre chega entre às 17 e às 19 horas. Aí fiquei indeciso sobre se iria entrar nas redes sociais ou assistir algo. Mas aí ele me pede pra lavar o carro. Nossa eu odeio lavar o carro. Não gosto, questão subjetiva e pronto! E hoje com um nível nuclear de um tédio com um T (bem grande pra você) eu me fingiria de morto pro urso. Mas como um insight do acaso resolvi ir. Não contaria com a ajuda do expert em lavar carros, meu irmão, por conta do resfriado. Estava sozinho na peleja. Comecei lavar, passar sabão nas laterais e ai me veio a recordação: meu pai acabara de vender o carro. O que isso tem a ver? Nada. Mas pensando bem, essa seria a ultima vez que eu lavaria esse carro. Esse mesmo carro a qual estava sendo adquirido quando passei no vestibular. E quando chorei por um fracasso amoroso? chorei no ultimo banco, vindo de Arapiraca pra casa. Alguns meros desavisadinhos iriam falar "cara, é apenas um carro, um bem material qualquer". Aí destaco a palavra bem em soma com a palavra material. Somos personificadores do material como um bem que se encontra no âmbito financeiro. O valor mundano para algo que é inerente a ele. Irritantemente somos província a ponto de criar o jargão do "com dinheiro compra-se outro". O outro não me recorda nem um momento sobre o que passei durante esses quatro anos. Então damos ao ser inanimado o título de valor sentimental. Aquilo que nos é dado com preço impagável aos cifrões e aos juros compostos. O carro do meu pai (vejam, nem meu é) tem um valor sentimental significativo pra mim e pra todos da minha prole. Então estava me despedindo das minhas memorias materiais. Aquilo me doeu bastante. Fiquei abatido até o momento de escrever esse texto. Talvez ele amenize a dor. Não de um carro qualquer, mas de um que eu sei bem como foi sofrido pra tê-lo de fato. Escrevo mesmo por isso. Por coisas que acho que tem valor. E nem preciso prolongar a explicação disto: os raros entenderão.
Estou bem, aliás bem é a palavra que define o meu estado bruto de espirito. Material é apenas aquilo que está no nosso alcance visual e tátil. E como estou ainda naquela jogada da simbiose, estou bem...material.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Simbiose

Distraído, vaguei pelos vales sombrios e sóbrios do Youtube. Achei um vídeo de um cara que já admiro há séculos e isso só aumenta exponencialmente. Falando do nosso hermano Rodrigo Amarante. Ele falou do significado do nome de seu novo (não tão novo, já faz um ano) CD "cavalo". Particularmente fiz como manda a receita do bolo e julguei pela capa: que nome horrível para um CD de um cara que eu acho de outro planeta. Aí nesse vídeo, em um programa português chamado "o que fica do que passa" ( que nome lindo!) vi o entrevistador fazer a pergunta crucial sobre o que significava o cavalo. Deu até a introdução do cavalo como símbolo do veículo, no candomblé. Mas o Amarante, como sempre, me surpreendeu. Falou novamente do dualismo que ele carrega desde os Los Hermanos: falou da separação entre o ser racional e o emocional. E ai falou da simbiose entre cavalo e cavaleiro, o guia se torna guiado, a cavalgada perfeita.
E pra completar falou de algo que sempre me instigou: Se eu não tivesse aqui e tivesse lá, quem eu seria? ("quem então agora eu seria?" na bela canção o velho e o moço). Assim como ele, sempre me imaginei como seria se ainda estivesse em São Paulo. Quais seriam minhas amizades, o que eu estaria fazendo agora? Isso é se desprender do plano, do padrão vital dos ponteiros cronológicos. Isso é ser livre, sem pudor. Ser dotado de uma imaginação fugaz e desdobrante. Pessoas que pensam assim, não convivem bem com o estático.
Realmente viver, sonhar e antes de morrer, não-pensar. Mas deixar o sub-consciente falar por si próprio. O processo é bem mais aterrorizante. Me vem à cabeça a teoria das probabilidades. De que o que seriamos se não fossemos, conversa que tive com os alfabéticos dias atrás. Somos disso mesmo: de referenciar aquilo que somos por medo de não sabermos mais depois. E ai vi o sentido de Mon Nom, da frase enigmática do Je suis l'etranger . De toda a preposição e a pré-disposição que o artista tem. De não poder se expressar na língua do outro. Perder o veículo, o cavalo.
Tudo se tornou claro quando se fala da distância, de Irene, do presságio sobre o novo de The Ribbon. Esse CD realmente mexeu comigo. Me extenuou de mim mesmo.
Ficamos por fim com o trecho que me fez escorrer umas lágrimas, que me fez refletir sobre o que faço como pessoa atuante e passiva daquilo que objetivo. Afinal, somos um LIVRE ARBÍTRIO, ou um LIVRO ABERTO.



Quem na rua se perde
Encontra o que pede
Acerta o que mede
E conta até errar
Que o erro é onde a sorte está


Não queira ver