sábado, 24 de janeiro de 2015

A virtude inesperada da ignorância

E então acho que de fato esse é o primeiro texto desse ano. Já começa com uma frase de efeito bem hollywoodiana (na verdade é). Essa frase se originou de um filme que assisti essa semana, intitulado "Birdman" ou "A virtude inesperada da ignorância". O filme tem Michael Keaton como protagonista. Bem se vocês lembrarem direitinho, voltaremos lá nos anos 90 e veremos um certo homem-morcego em "Batman Returns". Além do inigualável Beetlejuice  em "Os fantasmas se divertem" e tantos outros papéis. Na verdade, o que eu quero pontuar é que nunca esperaria de quem fez (ao meu ver) um Batman mais ou menos chegar a fazer um papel tão pesado e dramático como o Keaton fez. E daí sai o nome por trás do Homem-pássaro. Homem-humano, que nesse filme dá duro pra tentar ser um ator reconhecido após anos de biunívoca correspondência com o herói. Fico me perguntando se esse não foi um papel proposital para o Keaton, que nos últimos anos ficou a margem desse Batman e do Beetlejuice. Acho que o papel foi como uma luva pra ele: do marasmo e do "esperava mais" nasceu uma indicação ao Oscar. Bizarro né?
Realmente me pergunto: passamos a vida toda perseguindo aquilo que já somos, ou fomos? Ou apenas precisamos de acreditar mais um épsilon em nós e por um centímetro de vergonha na cara ao tentar ser melhor naquilo que fazemos. Estamos condenados ao fadistismo (não o de Portugal e de Carminho) e ao contemporâneo desejo de ficar na inércia em casa enquanto o legal acontece. Isso me faz lembrar de algumas cenas do filme em que o Birdman conversa com Keaton mostrando a ele o que realmente as pessoas esperam dele. O que realmente as pessoas esperavam dele, digamos. Ele foi ousado (não vou dar Spoilers aqui não) e mostrou realmente o que todos queriam ver. E daí? Será que precisamos ser um Keaton e ficar à sombra de algum bem feito para podermos despertar e correr atrás do que realmente é nosso? Do que realmente somos?
De novo, volto ao ostracismo de ficar resguardado de tudo isso. É como se o seu quarto fosse seu "mondé"e que você é o rei, que não precisa ser questionado. Aí aparece um Keaton e te serve de exemplo. Pra você começar a valorizar mais o que você faz. O que você realmente faz sem querer troca alguma. Bem, Birdman foi uma lição daquelas que o cara precisa no começo do ano pra quem sabe no final se satisfazer de algo produtivo e relevante que fez. Críticas, assim como no filme, aparecem pra destruir sua moral. Não entendam esse texto como auto ajuda. Não, ele não vai te ajudar em nada. Quem vos escreve é tão Keaton quanto o próprio Keaton, sem nenhum Birdman do lado, okay?
Então nobres leitores sejamos mais Birdman. Sejamos ousados e não tenhamos medo do inesperado. Inesperado pode ser a virtude dessa ignorância suprema que nos assola esses dias. De um beijo de boa noite ao "olá, como vai?" de quem te fez feliz e hoje é menos importante que uma pedra.
(Vamos parar de usar o Keaton como adjetivo para inapto e indeciso)
Espero que vocês que leem esses textos, se prontifiquem a assistir essa bela obra de Alejandro González Iñárritu que me inspirou a escrever essas bobagens para 2015. A virtude inesperada da ignorância, é o que eu mais espero de mim e de todos. Saravá!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Interregno

Ano novo. Nada de novo. Eu no mesmo estado. Mas acho que algo mudou. O título do texto diz tudo. Acho que estou em processo universal de interregno. Eu nem sei porque venho fazendo essas reflexões em pleno dia dois do ano. Mas algumas coisas me chamaram a atenção durante a transição do ano novo.
A primeira delas foi que eu estou em outra rede social. Não irei citar. Eu repudiava com todas as forças essa rede social. Só acentua o que eu acho que nós estamos nos tornando: maquinas humanas. Dedos teclando e pessoas com sentimentos líquidos (é, eu venho lendo muito Bauman esses dias). Porém o ápice da minha reflexão foi estar nessa rede social e num fim de conversa com uma amiga eu me despedi, como faria com qualquer pessoa. Ela indagou: "ouxe e é rede fulana é?". Mesmo assim deu o "boa noite". Foi crucial pra eu entender que as pessoas estão perdendo as formalidades que nossos pais nos ensinaram. Que as redes sociais estão nos tratando como maquinas, que podemos desligar e ligar, como se a separação virtual nem fosse separação. Acho que sou antiquado demais pra entender essas coisas, sou muito conservador. Não no sentido reacionário mas no sentido poético, de conservar o que me foi dado. Não quero ser apenas uma C.P.U. que desconecta e conecta com outras. Sou humano e quero conversar sobre Freud e sobre o filme em cartaz. E que quando fomos embora, nos despedimos para lembrarmos que estamos apenas separados momentaneamente. Pode parecer besteira, o que muitos vão denominar. Eu gosto da humanidade, não dessa pseudo-humanização.
A segunda foi que a pessoa a qual eu vinha planejando mil e umas coisas, a qual eu queria que estivesse ao meu lado, me excluiu. Percebam que isso tem tudo a ver com a primeira observação. Como uma pessoa pode ser tão província a ponto de te excluir da vida dela com um clique? Será que as pessoas no futuro serão tão medonhas a ponto de estarem se relacionando apenas, mas não estarão entregues a eles. Meu espírito chora quando penso nessas coisas. Eu gosto das pessoas e tenho certeza que pra um que me odeia tem dez que gostam de mim. Proporções excelentes para um chato e semi ranzinza como eu. Mas daí você decide que aquela pessoa não vale mais a pena e então você simplesmente desaparece "virtualmente". Então, de novo pensamos a "network" e não os afetos, os vínculos necessários para a socialização humana. Eu tô puto mesmo, acho que ninguém nem vai me perguntar nada.
Acho que percebendo os horrores da nossa liquidez social, fiquei triste. Tinha amiguinhos quando não tinha internet, os quais eu brincava e brincava num moto contínuo sem se preocupar se ele tinha um android ou um IOS e umas fotos bacanas no Instagram. Agora, as pessoas se venderam para a personificação da virtualização demasiada e inepta.
O interregno me dá um medo atmosférico. Não quero prever nada, mas acho que o que eu ando fazendo não ta servindo. Mudar de postura seria tão impossível quanto nadar na Perucaba (Eu sendo regionalista, espia!). Ou talvez sim, esse interregno sirva pra eu crescer e achar realmente quem eu sou. Se é que isso também é possível. Assistamos aos capítulos adjacentes. 
Bom 2015 e que se você me ver na rua, me pare e converse comigo. Aí sim podermos criar vínculos eternos!