sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Interregno

Ano novo. Nada de novo. Eu no mesmo estado. Mas acho que algo mudou. O título do texto diz tudo. Acho que estou em processo universal de interregno. Eu nem sei porque venho fazendo essas reflexões em pleno dia dois do ano. Mas algumas coisas me chamaram a atenção durante a transição do ano novo.
A primeira delas foi que eu estou em outra rede social. Não irei citar. Eu repudiava com todas as forças essa rede social. Só acentua o que eu acho que nós estamos nos tornando: maquinas humanas. Dedos teclando e pessoas com sentimentos líquidos (é, eu venho lendo muito Bauman esses dias). Porém o ápice da minha reflexão foi estar nessa rede social e num fim de conversa com uma amiga eu me despedi, como faria com qualquer pessoa. Ela indagou: "ouxe e é rede fulana é?". Mesmo assim deu o "boa noite". Foi crucial pra eu entender que as pessoas estão perdendo as formalidades que nossos pais nos ensinaram. Que as redes sociais estão nos tratando como maquinas, que podemos desligar e ligar, como se a separação virtual nem fosse separação. Acho que sou antiquado demais pra entender essas coisas, sou muito conservador. Não no sentido reacionário mas no sentido poético, de conservar o que me foi dado. Não quero ser apenas uma C.P.U. que desconecta e conecta com outras. Sou humano e quero conversar sobre Freud e sobre o filme em cartaz. E que quando fomos embora, nos despedimos para lembrarmos que estamos apenas separados momentaneamente. Pode parecer besteira, o que muitos vão denominar. Eu gosto da humanidade, não dessa pseudo-humanização.
A segunda foi que a pessoa a qual eu vinha planejando mil e umas coisas, a qual eu queria que estivesse ao meu lado, me excluiu. Percebam que isso tem tudo a ver com a primeira observação. Como uma pessoa pode ser tão província a ponto de te excluir da vida dela com um clique? Será que as pessoas no futuro serão tão medonhas a ponto de estarem se relacionando apenas, mas não estarão entregues a eles. Meu espírito chora quando penso nessas coisas. Eu gosto das pessoas e tenho certeza que pra um que me odeia tem dez que gostam de mim. Proporções excelentes para um chato e semi ranzinza como eu. Mas daí você decide que aquela pessoa não vale mais a pena e então você simplesmente desaparece "virtualmente". Então, de novo pensamos a "network" e não os afetos, os vínculos necessários para a socialização humana. Eu tô puto mesmo, acho que ninguém nem vai me perguntar nada.
Acho que percebendo os horrores da nossa liquidez social, fiquei triste. Tinha amiguinhos quando não tinha internet, os quais eu brincava e brincava num moto contínuo sem se preocupar se ele tinha um android ou um IOS e umas fotos bacanas no Instagram. Agora, as pessoas se venderam para a personificação da virtualização demasiada e inepta.
O interregno me dá um medo atmosférico. Não quero prever nada, mas acho que o que eu ando fazendo não ta servindo. Mudar de postura seria tão impossível quanto nadar na Perucaba (Eu sendo regionalista, espia!). Ou talvez sim, esse interregno sirva pra eu crescer e achar realmente quem eu sou. Se é que isso também é possível. Assistamos aos capítulos adjacentes. 
Bom 2015 e que se você me ver na rua, me pare e converse comigo. Aí sim podermos criar vínculos eternos! 

2 comentários:

  1. Num texto, hoje, eu de certa forma abordei um pouco dessa coisa de amizade virtual, que pra mim é amizade sim. Mas, repare, eu concordo demais com tudo que você disse aqui. Isso das pessoas simplesmente darem um click me soa como se quisessem exterminar exterminar o outro da vida delas. Tenso, feio, estranho... tudo isso.

    A propósito, me dê logo seu contato na nova rede. hahaha.

    Beijo!

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  2. heheheeh Milene como sempre falando coisas bonitas

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