terça-feira, 4 de março de 2014

A onda

Ouço uma canção inédita que já tinha ouvido. Parece contraditório mas é assim mesmo. Sempre, no meu caso, há um arranjo que você nunca ouviu da primeira vez. Ou uma nota do contrabaixo que você admirou por estar fora ou por estar dentro até demais. É o erro é muita das vezes subjetivo, realça a beleza.

Então entrei na onda, nessa canção que me pareceu perfeita pro momento. Sou réu confesso da admiração pelo Humberto Gessinger. O modo como ele se expressa como artista é inerente demais. Ouvi suas músicas desde adolescente e até hoje não consigo parar. A onda me arrastou mar adentro, refém dela estou.

Pra pegar a onda tem que estar
Na hora certa num certo lugar


E nessa mesma onda descobri uma outra onda. Nunca tinha parado pra olhar que os meus textos estão sempre alinhados à esquerda. Acho que é falta de vontade de conserto mesmo. E relutando sobre algo que passou hoje, lembrei do falecimento de um parente de um amigo meu. A onda vem e volta, carrega todos nós: nos obriga a surfar karmas e DNA. E andar na ponta da prancha. O mar da vida não devolve nada que engole, ele deixa a onda fazer isso.

Que onda, ando querendo desistir daquilo que tanto remei pra chegar. Morrer na praia a onda leva sem dúvida. Ainda tenho um restinho de nitro sobrando pra a parte final. Não espero vencer, só sobreviver.

Qualquer tentativa de pular a onda é inútil. A onda faz parte da jangada, e vice-versa. Nem os peixes ficam de fora do sem bem-querer (meio Millôr hoje, com as palavras gêmeas).

Carnaval sem onda nenhuma por aqui. Por isso é que deve estar tão sem graça pra mim. Sem onda não surfo, me afogo. 

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